Viagens

"Aquele menino trazia na testa a marca inconfundível: pertencia àquela espécie de gente que mergulha nas coisas e às vezes sem saber por que, se na esperança de decifrá-las ou se apenas pelo prazer de mergulhar. Essas são as escolhidas - as que vão ao fundo, ainda que fiquem por lá. Como aquele menino. Ele não voltou. Quero dizer, ele voltou, mas já não era mais o mesmo, e quando se foi em definitivo não era mais o mesmo menino que tinha ido ao bosque um dia." (C.F.A.)

Ainda hoje eu tento processar o que foi vivenciar esse Encontro de Bumba-Meu-Boi de Matracas em homenagem à São Marçal. Eu que sou filha originária dessa Ilha, precisei sair dela pra só agora, 35 anos depois, conseguir enxergar o brilho dessa grande estrela encantada que é a celebração do São João no MA.

Entre festas, rezos e encantarias, o sagrado e o profano, os Bumbas desfilam alegria e magia pela Ilha do Amor. Sem língua, mas com alma.

Do pouco que processei, duas confirmações me chegaram:

1)eu sou feliz mesmo é no chão da rua! Me sinto viva quando estou junto ao povo, quando esse também é vivo. E no São João, ninguém tá morto. Nem mesmo o Boi apunhalado por Francisco.

2)Na minha incapacidade de processar o que sinto quando vivo, falo com os olhos o que me chega no coração. É por isso que eu vivo de arte.

Quem vê o Bumba desfilar - seja antes ou depois de perder sua língua - pode até voltar de lá, mas já não será mais a mesma pessoa. Por isso, deixo aqui a minha sugestão: ao encontrá-lo, vá ao fundo. E se possível, fique por lá.

E falando em arte, toma-lhe registros desse grande encontro do São João do Maranhão, "meu tesouro, meu torrão".

Feliz aniversário São Marçal. Valeu pela festa. Teve bom.

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