Eu amava ler quando era criança. Lia porque os livros me permitiam viajar para mundos até então inimagináveis, ali de dentro de minha pequena bolha. Ler me permitia sonhar.

E como muitas crianças (também de minha bolha), eu li "O Pequeno Príncipe".

E não, não foi a graciosa raposa quem me cativou, mas sim a grandiosa Baobá. Desde então, eu imaginava se algum dia eu iria me deparar com uma delas.

Viajar pra fora não era uma realidade. Então eu sonhava.

Foi no Malauí que esse encontro aconteceu. E contrariando a visão colonizadora de Saint-Exupéry, que em seu conto de fadas pinta a baobá como uma semente do mal, para mim, conhecer uma baobá de perto foi sobre reconhecer uma grande Entidade. Uma Deusa-Mãe do Sr. tempo.

Para muitos povos Africanos, a baobá é uma árvore sagrada. É a árvore da vida, que carrega em suas raízes os ancestrais daquela terra e as memórias de seus povos, e em seu tronco as crianças e jovens - o futuro das próximas gerações.

Bati cabeça, porque é o que faço quando reverencio uma Entidade. E em nosso abraço, senti a energia de anos de memórias ali guardadas.

Me vi pequena perante sua imensidão e gigante diante do sentimento de ser também fruto seu, e de alguma forma, fazer parte daquilo.

A baobá é uma grande máquina fotográfica que coleciona memórias, e a partir delas, cria linhas do tempo de tudo o que foi vivido ali, ao seu redor, desde de quando era apenas uma "semente do mal".

Na minha pequenez-imensidão, agradeci aos meus ancestrais que me permitiram conhecê-la para além da versão do colonizador.

A criança que sonhava viveu para registrar e pra contar a história de quem chegou primeiro.

Axé.