A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam.
Frei Beto
O Malauí (Malawi) é um país paradoxalmente (des)conhecido por ser um dos mais pobres de todas as Nações, ao mesmo tempo que possui uma das populações mais afetuosas de África.
Por entre o alaranjado do barro que pisei e dos pores-do-sol que testemunhei, o branco dos sorrisos tímidos porém generosos das pessoas que me cruzaram os caminhos, restou na boca o gosto agridoce de quem pode confirmar tudo isso.
Em busca de histórias pra contar, percorri o país - de Lilongwe (capital) até Mangochi Bay (litoral) - conhecendo tribos originárias, chorando aos pés de árvores sagradas, sentindo a alegria dos erês preencher meu coração enquanto minha cabeça questionava como é possível se ter alegria em meio a tanto esquecimento.
Ali eu conheci a esperança no encontro com uma juventude engajada em fazer do lixo um luxo, e a resiliência numa terra que sofre entre secas e tempestades mas resta rebelde, ainda brotando vida.
África não se explica, se vivencia.
Mas se eu tivesse que tentar explicar, começaria pelo Malawi. E diria - eis ali a linha tênue entre a não-existência e a existência de Deus.